terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Cidadã Tocantinense, Dona Margarida é homenageada em Tocantínia

Com o apoio do governo federal a Prefeitura de Tocantinia na pessoa do prefeito Manoel Silvino Gomes Neto (PR), inaugurou num anexo da prefeitura, a Biblioteca Municipal Margarida Gonçalves nesta quinta-feira, dia 9 de dezembro. Dona Margarida, 83 anos, foi homenageada em vida pelo trabalhos prestados e porque veio para as margens do Rio Tocantins, em 1948, com 21 anos, como Missionária Batista da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. Embora aposentada, ela continua como missionária da junta, prestando serviço na cidade de Lajeado. A homenageada foi diretora do Colégio Batista de Tocantinia por quase 40 anos. Lecionou no Colegio Batista de Santarem, no Pará, no Instituto Batista de Carolina, Maranhão. Também foi diretora do Colegio Batista de Palmas.
Dona Margarida estudou no Baptist Seminary Fort Worth, Texas, Estados Unidos. Ela também ocupa a Cadeira 22 da Academia Tocantinense de Letras. Cidadã Tocantinense, título concedido pela Assembleia Legislativa do Estado, Dona Margarida escreveu o livro "Beatriz a Que Faz Feliz" (Rio de Janeiro, Juerp, 1980); Facetas da Vida Cristã (Palmas, Provisão, 2007). Na inauguração da Biblioteca, em Tocantinia, estiveram presentes figuras ilustres, entre as quais, Pastor Samuel (do Rio de Janeiro, representado a Junta de Missões Nacionais), Eduardo Almeida (presidente da Academia Tocantinense de Letras), Mario Ribeiro Martins (procurador de justiça aposentado e membro da ATL), João Portelinha (presidente da Academia Palmense de Letras), Osmar Casa Grande (da Academia Palmense de Letras), o Pastor Claudio, além de centenas de outras pessoas

Cidadã Tocantinense, Dona Margarida é homenageada em Tocantínia

Com o apoio do governo federal a Prefeitura de Tocantinia na pessoa do prefeito Manoel Silvino Gomes Neto (PR), inaugurou num anexo da prefeitura, a Biblioteca Municipal Margarida Gonçalves nesta quinta-feira, dia 9 de dezembro. Dona Margarida, 83 anos, foi homenageada em vida pelo trabalhos prestados e porque veio para as margens do Rio Tocantins, em 1948, com 21 anos, como Missionária Batista da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. Embora aposentada, ela continua como missionária da junta, prestando serviço na cidade de Lajeado. A homenageada foi diretora do Colégio Batista de Tocantinia por quase 40 anos. Lecionou no Colegio Batista de Santarem, no Pará, no Instituto Batista de Carolina, Maranhão. Também foi diretora do Colegio Batista de Palmas.
Dona Margarida estudou no Baptist Seminary Fort Worth, Texas, Estados Unidos. Ela também ocupa a Cadeira 22 da Academia Tocantinense de Letras. Cidadã Tocantinense, título concedido pela Assembleia Legislativa do Estado, Dona Margarida escreveu o livro "Beatriz a Que Faz Feliz" (Rio de Janeiro, Juerp, 1980); Facetas da Vida Cristã (Palmas, Provisão, 2007). Na inauguração da Biblioteca, em Tocantinia, estiveram presentes figuras ilustres, entre as quais, Pastor Samuel (do Rio de Janeiro, representado a Junta de Missões Nacionais), Eduardo Almeida (presidente da Academia Tocantinense de Letras), Mario Ribeiro Martins (procurador de justiça aposentado e membro da ATL), João  RodriguesPortelinha (presidente da Academia Palmense de Letras), Osmar Casa Grande (da Academia Palmense de Letras), o Pastor Claudio, além de centenas de outras pessoas

  Solidariedade Masculina ao Extremo



Eurípedes disse, certa vez, que era melhor estar três vezes em combate com escudo e tudo que parir uma só vez!
    Se a gravidez é felicidade para a mulher, já não se pode dizer a mesma coisa do parto, que é complicado, sobretudo pelas dores que aumentam de intensidade, sendo, em princípio, espaçadas, reduzindo-se pouco a pouco os intervalos quanto mais se aproximam de seu término. Às vezes, para desgraça destas, o parto é acompanhado com eclâmpsia, que se manifestam por perturbações visuais e cerebrais, dores de estômago e, finalmente, tremores nos músculos da face, pálpebras e lábios, etc. Quer dizer, “dar à luz” não é fácil! Não é por acaso que as mães para suas filhas que, quando forem mães, saberão certamente o que é ser MÃE. Mas o meu propósito aqui não é alarmar ninguém sobre a “condenação” da mulher apregoada em Madéias: - Engendrarás na dor, disse Deus à mulher. Nem tão pouco fazer um tratado de medicina.
         Em toda história da humanidade, sempre se pensou acabar ou pelo menos amenizar as dores de parto. E sempre também questionou-se o papel masculino, a participação do homem na geração da prole e a possibilidade de alguma solidariedade masculina para as parturientes.
         Entre os índios, de acordo com o meu amigo Eustáquio Grillo, docente da UnB, na altura em que a índia está de resguardo, o esposo fica de resguardo também, podendo ser até mais radical, ou seja, mais próximo do repouso absoluto. Isto, segundo o ilustre docente, talvez seja conseqüência da crença de que a boa gestação exige, digamos, o continuo fornecimento de matéria-prima! O que, no caso, significa esperma e, por isso, implica manter relações sexuais diárias com a esposa grávida. Não é uma forma de solidariedade masculina?
         Nas aldeias africanas, a gravidez é também um período carregado de tabus e mistérios. A grávida é influente e tem toda solidariedade e carinho, não somente do marido, mas de toda comunidade. Aqui o curandeiro dispõe de um aparato de variadíssimos recursos assistenciais e mágicos para libertá-la de um parto com dor. O engenho dos especialistas da magia parece tão inesgotável e variado que incluem no seu bojo uns tantos milongos para a transferência das dores para o marido.
         A minha irmã Etelvina resolveu a passagem da dor para o marido na hora. Quando estava a ter o nenê, mordeu decididamente o marido... e ficou resolvido. Não foi preciso curandeiro nenhum!
         Ao contrário dos índios, os maridos da sociedade tradicional africana, também por solidariedade, abstêm-se de toda relação sexual desde o começo da gravidez. E quando a esposa está a dar à luz, geralmente de cócoras, o marido deve sair de casa para que não ocorram influências mágicas perigosas. Caso sejam detectadas, devem ser imediatamente contrafeitas pelo curandeiro. Ao contrário do índio, que por solidariedade fica em casa, aquele tem que sair de casa por solidariedade à mulher.
         No Huambo, minha terra, as aldeias são o lugar onde a cultura tradicional está mais arraigada. Quando o parto é difícil ou trata-se de um caso extraordinário, deve intervir imediatamente a parteira tradicional ou os ginecólogos tradicionais. Nestes casos quase sempre se imputa a culpa ao marido. Crê-se que geralmente estes males são ocasionados pela infidelidade masculina.
         A infidelidade paterna é sempre considerada nefasta. Nestes casos, a parteira implora-lhe que se redima obrigando-o, na presença, a dizer todas as amantes que já teve, pelo menos na fase de gestação, para que desta feita se facilite o trabalho de parto e, por força da retratação do seu pai, o bebê nasça bem.
          Um amigo meu esteve também numa situação bem pouco confortável. A mulher estava com dificuldades no parto e a parteira mandou-o chamar para que ele dissesse o nome das suas amantes. Como a lista era enormissíma, uma das suas tias sugeriu que se fosse ao hospital, porque o infeliz nunca mais terminava com os nomes.
         No meu recente romance, lançado em novembro deste ano: “O dia em que um Ngola descobriu Portugal”, tentei exatamente retratar esse episódio com dois personagens principais do meu livro: Nganga Nzumba e Tchilombo:

         “... Algumas mulheres mais próximas da família real acercaram-se uma a uma do leito da rainha Tchilombo, e chorando aos soluços entenderam-lhe as mãos e garatiram-na com voz entrecortada que ela sobreviveria e daria um herdeiro ao rei, embora, também, fosse culpada pela dificuldade do parto por não se ter submetido, a partir do terceiro mês de gestação, a ritos purificatórios perante o adivinho.
    O rei Nganga Nzumba, manteve-se sentado numa cadeira ao lado do leito de sua esposa e, em tom amigo, disse-lhe com meiga censura:
         - Então, minha bem-amada! Tu, que fostes sempre a primeira, cada vez que era ocasião de servires o teu senhor e mestre, pela palavra e pelos actos, por que tardas o nascimento do nosso filho? Queres ser a única a negar-me o que as outras de bom grado e livremente me concederiam? Não entendes que é aí que está o futuro do nosso reino? Sei que queres saber quantas amantes eu já tive ou tenho! É isso? – Indagou Nganga Nzumba.
         Ela, porém, em sua dor silenciosa, lançava a cabeça para trás... Premiu compulsivamente suas mãos contra a barra da cama, enquanto ondas violentas de sangue e espalhavam nos lençóis, e então torceu o seu dolorido corpo, como se estivesse sendo vergastada!

         -Vou dizer-te todas amantes que já tive! –Prometeu Nzumba.


A lista era enorme e o infeliz genitor nunca mais terminava com os nomes de suas amantes... Entretanto, uma ex-escrava, que foi enfermeira de um senhor de engenho, fez o parto.
         O nasciturno de parto normal quase sempre dá sinais de vida com espirros e choros! Não foi o caso do primogênito de Nzumba e Tchilombo que nasceu com sinais de cansaço...  A parteira Nganguela preocupada com o caso pôs uma folha da árvore “Mumwe” sobre o peito da criança e tocou instrumentos de ferro. Com o som destes instrumentos, o bebê assustou-se e começou a chorar... Nzumba e Tchilombo choram juntos de plena felicidade! Doravante... Meu queridinho filho chamar-te-ei de Nzumbi e serás um grande guerreiro! – Vaticinou Nganga Nzumba”.

                   Um caso, porém, que pode ser considerado como exemplo extremo de solidariedade masculina. É um episódio inédito que se passou no interior do Brasil.
         Na casa de uma família cabocla, havia três compartimentos: dois quartos, intermediados por uma sala.  Uma parturiente estava num quarto a ter o bebê. Um dos pulsos tinha amarrado um cordel, o qual, subindo e passado por sobre os caibros, ia ter no quarto vizinho. Aí descia e tinha a outra ponta amarrada... adivinhem? ... Lá mesmo, nos penduricalhos do marido. Conforme doía, a mulher puxava espasmodicamente o cordel e assim o marido sofria junto. Nos dois lados era um berreiro dos diabos.
         Haverá melhor exemplo de solidariedade masculina?

Oxalá que a moda não pegue em Angola, senão estamos todos fritos...


  

domingo, 12 de dezembro de 2010

Lançamento do Livro de João Portelinha D´Angola

João Portelinha d`Angola em Brasília

joão portelinha - Posse na Academia Palmense de Letras

Posse na Academia Palmense de Letras

POSSE DE NOVOS MEMBROS DA ACADEMIA PALMENSE DE LETRAS

Lançamento do livro "Crônicas de risos e lágrimas"

OUTORGA DO DIPLOMA A BOAVENTURA CARDOSO COMO MEMBRO DA ACADEMIA PALMENSE...

Casamento da Helga Portelinha & Joel Gomes no Futungo de Belas

JOÃO PORTELINHA D´ANGOLA NO HUAMBO

Viagem de João Portelinha D`Angola ao Cento e Sul de Angola

lançamento de "Crônicas de Risos e Lágrimas" de João Portelinha d`Angola

LANÇAMENTO DO LIVRO DE JOÃO PORTELINHA D`ANGOLA NA UFT

Lançamento do Livro de João Portelinha D´Angola

POEMAS DE JOÃO PORTELINHA D`ANGOLA

domingo, 28 de novembro de 2010

 Relato da escravidão em romance de João Portelinha

05:07
Um romance histórico que mistura ficção e realidade, assim define o autor do livro O Dia que um Ngola Descobriu Portugal, o professor João Rodrigues Portelinha da Silva. O livro tem como tema central o relato da escravidão em Angola e no Brasil, sendo a personagem central a formosa e lendária rainha Njinga Mbandi e o Nganga Nzumba (Zumbi dos Palmares), que, na ficção, são mãe e filho, mas que na realidade, embora não sejam, viveram na mesma época e têm a mesma origem. Herança cultural No livro, o autor comenta que tentou ilustrar a relação forte existente entre os povos angolanos e brasileiros. “Angola é a mãe preta que amamentou culturalmente o Brasil e o colocou ao colo através das mucamas”, diz o escritor. Portelinha revela que a obra é fruto de um projeto que o acompanhava desde a juventude. “Sonhava em ter um navio e nele colocar todas as pessoas provenientes de países que foram colonizados por Portugal. Levaria-os até Portugal e lá diria que essas pessoas teriam descoberto Portugal.” Ele conta que desde o começo da obra teve ambição de reproduzir com realismo o que foi o comércio de escravos da maneira mais verídica e completa, buscando evitar banalidades. A obra, segundo ele, é feita de observação puramente naturalista, com uma ampla parte psicológica das ações, bem como sentimentos dos personagens que retratou. O lançamento do livro O Dia que um Ngola Descobriu Portugal ocorreu na última segunda-feira, no Anfiteatro do Campus da Universidade Federal do Tocantins (UFT), em Palmas. Segundo Portelinha, o livro também foi lançado no início deste mês, no Clube Naval e das Nações, em Brasília, com a presença do corpo diplomático creditado no Brasil. Escritor Formado em Direito pela Universidade Antônio Agostinho Neto em Angola (primeira turma formada pós-independência) e em Ciências Políticas pelo Instituto Wilhelm Pieck - Berlim, João Rodrigues Portelinha da Silva possui mestrado em Filosofia do Direito pela Academia de Ciências Sociais, Sofia - Bulgária. Doutorado em Sociologia do Estado e Sociedade pela UnB - Universidade Nacional de Brasília. Entre outros vários títulos que acumula, ele teve uma experiência expressiva na África. Foi chefe do ATM do Governo Provincial do Huambo, diretor Jurídico do Comissariado Provincial do Huambo, docente da Escola Nac. do Partido, chefe de Cátedra de Ciências Sociais da Pré-Academia Militar do Huambo. É presidente da Associação dos Naturais e Amigos da África em Palmas, Brasil. É membro da Associação dos Naturais e Amigos de Angola no Brasil e presidente da Academia Palmense de Letras. Além disso, tem vários livros e ensaios publicados de Literatura, Direito, Ciência Política, História e Sociologia Jurídica. Tem atuado, também, como analista político em programas na TV e jornais locais e nacionais.


Fonte: Jornal do Tocantins

Autor: Redação

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

PORTELINHA LANÇA LIVRO NA UFT

Mesa-redonda discutirá política pública para quilombolas e cotas na UFTImprimirE-mail
Por Samuel Lima e José Filho   
22 de novembro de 2010
Hoje a noite, no Anfiteatro do Campus da UFT em Palmas, ocorrerá um mesa-redonda que abordará "Políticas Públicas para a população quilombola e cotas na UFT". O evento começa às 19h30 e deverá contar com a presença do reitor Alan Barbiero, e do subsecretário de Ações Afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), João Carlos Nogueira; o professor Élson Santos (UFT) mediará a mesa-redonda.
O evento faz parte da programação do Seminário da Consciência Negra: fórum de políticas públicas, iniciado no último dia 19 e que trata de diversos assuntos, indo da História da África; Políticas públicas para quilombolas e cotas; até Educação, Raça e Sexualidade e Dimensionamentos de Sociabilidades Negras no Brasil Contemporâneo. A programação prossegue até 25 de novembro, nos campi da Universidade Federal do Tocantins de Palmas e Porto Nacional, e ainda no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO).
O Seminário acontece por ocasião das comemorações do Dia da Consciência Negra - celebrado em 20 de Novembro no Brasil. A data é dedicada à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. O Dia da Consciência Negra procura ser uma data para se lembrar a resistência do negro à escravidão de forma geral. O encontro é uma realização do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB/UFT) e conta com apoio do Comitê Estadual de Promoção da Igualdade Étnicorracial (Ceppir).

Acesse aqui a programação completa do Seminário da Consciência Negra.
imagem_do_livro.jpgLivro - Durante a programação desta segunda-feira (22), o professor João Rodrigues Portelinha da Silva, do colegiado de Direito, lançará o seu livro "O Dia que um Ngola Descobriu Portugal". O livro, um romance, tem como tema o relato da escravidão em Angola e no Brasil.

De acordo com a cantora, atriz, apresentadora e crítica de literatura angolana-brasileira, Helga Féti, o livro do professor Portelinha, como é conhecido na UFT, reproduz com realismo o que foi "o infame comércio de escravos, de maneira mais verídica e mais completa e nos mínimos detalhes, sem buscar evitar o que pudesse haver de banal ou mesmo de desagradável em tudo quanto lhe impressionara sobre a escravidão do seu continente e das duas terras que ama de paixão: Angola, a mãe preta, e o Brasil, seu filho mestiço", diz. Na ocasião, o livro será apresentado pelo poeta e Vice- presidente da Academia Palmense de Letras. Osmar Casagrande.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

LIVRO DE JOÃO PORTELINHA D´ANGOLA "CRÓNICAS DE RISOS E LÁGRIMAS"

PARTE FRONTAL
PARTE DE TRÁS

Autor Angolano, joão portelinha lança livro no Brasil, no Aniversário da Independência Nacional

Enviar por Email Publicado: 17/11/2010 | Por: Redacção Zwela | Em: AngolaArte e CulturaCulturaLiteratura | Lido 13 Vezes

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Foto: O autor João Portelinha e o Ministro da Defesa do Brasil Nelson Jobim. (JP)
REDACÇÃO ZWELA ANGOLA

BRASILIA/BRASIL (ZWELA ANGOLA)
 - Foi um sucesso o lançamento do romance histórico o “Dia em que Um Ngola Descobriu Portugal” do escritor angolano João Portelinha d´Angola, realizado no dia 11 de Novembro no Clube Naval de Brasília e no dia 12 no Clube das Nações; dois lugares nobres da cidade, onde se comemorou o 35 ° Aniversário da Independência de Angola patrocinado pela Embaixada de Angola, no Brasil. O evento foi elegantíssimo, frequentado por autoridades locais e nacionais brasileiras, angolanas e doutras nações, bem como representantes do corpo diplomático de outras nações acreditadas no Brasil.

Estavam presentes todos os membros do corpo diplomático angolano no Brasil: o Embaixador, Sr. Leovigildo da Costa e Silva e a Primeira Dama, Ministra Conselheira, a Sra. Maria Eugénia de Almerilda Ferreira dos Santos, o Adido Financeiro, Sra. Marinela Inah Vicente Olavo Gamboa Alves, o Adido Administrativo, a Sra. Maria de Fátima Manuel Rodrigues Velasco, no Sector Consular, o 3º Secretário, Sr. Rodrigo de Sousa, 3º Secretário, a Sra. Teresinha Miguel Santana Viegas, Chancelaria Militar, o Sr. Rafael Daniel Catumbila – General, Sr. Arnando Baptista York – Coronel e Sr. Zina Daniel – Capitão. Na ocasião, a Senhora Ministra Conselheira fez um lindo discurso enaltecendo os ganhos da Liberdade dos angolanos, da democracia, do desenvolvimento sócio - económico de Angola e "a forma exemplar e particular como foi alcaçada a paz". 

Os convidados da Embaixada e alguns amigos do autor angolano vibraram com o livro do romancista, contista, cronista e poeta da poesia essencial, que diz o máximo com o mínimo. Os convidados da Embaixada eram ilustríssimos: ministros, desembargadores, a maioria das embaixadas estavam representadas; adidos militares, culturais, de imprensa e comércio e suas respectivas damas, conselheiros das embaixadas, poetas, escritores e artistas da região estiveram presentes congratulando-se com mais um aniversário da independência da jovem e mais prospera nação africana, Angola.

O destaque foi o Ministro da Defesa Nelson Jobim, o primeiro a comprar o livro do autor, o Ministro da Integração Racial, ministros do Supremo Tribunal, Procurador da República de Angola, Embaixador da Palestina, Ibrahim Al Zeben, Embaixador de Marrocos, o Senhor Mohamed Louafa e esposa, Conselheiro da Embaixada de Timor-Leste, Embaixador dos EUA e sua esposa, Nelson de Magalhães Peres, da Corte Arbitral do Brasil, Embaixador da Grécia Dimitri Alexandrakis, António Alexandro, Primeiro Conselheiro Comercial da Embaixada da Itália, doutor Rodrigo. Bernardo de Sousa, altas patentes do exército e da aeronáutica do Brasil, estudantes e angolanos radicados no Brasil. No entanto, quem não passou despercebido foi o ilustríssimo casal e convidados especiais, o famoso aviador solitário Gérald Móss e sua simpática esposa Margi Móss que nasceu em Nairobi, no Quênia, onde teve uma infância de sonhos com aquelas paisagens exibidas no filme “Out of África” – Entre Dois Amores -, como pano de fundo. Moraram em vários países, encantaram-se de vez pelo Rio de Janeiro e se naturalizaram brasileiros. Em 2006, para ficarem mais perto da Amazônia e bem no centro do país, o famoso casal fez o impensável: mudou-se do Rio de Janeiro para Brasília.

Foram duas noites de festa, de gala, os salões com arranjos e iluminação especiais, comes e bebes “à la vonté” da melhor culinária angolana, francesa e italiana, os melhores vinhos importados. Na segunda festa, no Clube das Nações, mais para jovens, veio um DJ de propósito de Angola para abrilhantar o evento com músicas angolanas como kizomba, Semba, Kuduro, algumas músicas de Carlos Lamartine com novos arranjos e músicas modernas das nações aí representadas

O lançamento do livro do poeta e escritor João Portelinha foi uma atração aparte e especial. O seu primeiro romance, lançado quinta-feira e sexta-feira, nos Clubes Naval e das Nações, fala da epopéia da histórica rainha Njinga e de Nganga Zumba, filho da rainha angolana na ficção, que depois de uma luta aguerrida contra luso-brasileiros e holandeses consegue um navio e descobre Portugal! O gosto do autor pela literatura nasceu, antes de tudo, do prazer da leitura. A escrita, no entanto, foi acontecendo aos poucos, principalmente por meio dos estímulos de sua mãe Rosa Portelinha, poetisa e do escritor já falecido, Fernando Alvarenga, que foi seu professor de língua portuguesa no ensino secundário. “Quando criança, sempre estive em companhia de livros. O incentivo quase sempre vinha da minha mãe que me comprava livros de presente. Nas férias de fim de ano, em Luanda, na casa de minha tia, preferia à leitura aos passeios na capital. Meus pais ficavam sempre aborrecidos comigo, porque passava o dia todo lendo." Afirma. 

A apresentação do livro foi feita pelo renomado professor de Literatura Africana de expressão portuguesa, Doutor João Ferreira, prefaciador do seu livro anterior, também lançado na Embaixada de Angola em 1998, no Brasil, intitulado: “Crônicas de Risos e Lágrimas - Sentir a Terra nas Vozes Populares”.

Depropósito deixamos para o final o nome do renomado cantor e antigo combatente angolano, o Adido Cultural da Embaixada de Angola, no Brasil, Carlos Lamartine, que foi sem dúvida incansável e primoroso organizador dos dois inesquecíveis eventos alusivos a efeméride e que, incansavelmente, fazia questão de pessoalmente transportar e expor as valorosas e belíssimas pinturas e peças de artesanato da rica cultura angolana, ora num ora noutro clube, onde foram realizadas as duas mais lindas festas de comemoração da Independência de Angola em terras brasileiras.

REDACÇÃO ZWELA ANGOLA
 

sábado, 16 de outubro de 2010

CONVERSA COM A LOARA SOBRE DILMA

                  
 A minha filha Loara está pesquisando, tanto em livros quanto na internet, tudo que se relaciona com as “Amazonas”!  E é todos os dias aquela coisa... O pai sabia que no séc. III a.C. as Amazonas já teriam atingido a Grécia, antes apenas se conheciam localizadas na Ásia Menor e que durante séculos as suas estórias povoaram os imaginários de Gregos e Romanos e mais tarde com Colombo o mito foi transposto para o Novo Mundo?  Que a presença das famosas guerreiras na guerra  de Tróia ficou como elemento importante do mito e na Ilíada. Príamo recorda os tempos em que ele e os seus homens as combateram. Eles consideravam-nas mesmo «antineirai» que significa «equivalente aos homens», portanto seus pares. O herói da Ilíada Aquiles travará um combate com Pentesileia, rainha das Amazonas!   Sim, minha filha, inclusive os especialistas dizem que mito das Amazonas encontra-se em todos os continentes, excepto na Oceânia. Elas são dadas como certas na  China, nas «ilhas misteriosas», em relatos de navegadores árabes do séc. XI a XIII. Através do folclore da Escandinávia, da Rússia, da Boemia, de África e das Índias... Podemos seguir o rasto de relatos da sua existência e concluir que as Amazonas impressionaram vivamente homens de todos os tempos. Elas foram e são um tema recorrente e têm servido de inspiração a obras literárias e seduziram e seduzem pintores, escultores, compositores, autores de teatro. Isso tudo, caros leitores, explicado por mim para não “fazer feio” numa discussão com uma “especialista” de treze anos que passa a vida vasculhando tudo sobre o seu predileto objeto de estudo – AS AMAZONAS!
        Houve uns dias de trégua, mas ontem voltou à carga... O pai sabia que na América Portuguesa também se divulgou o mito. Em 1576, Pêro de Magalhães Gândavo chamava ao grande rio Maranhão «Rio das Amazonas» comprovando a divulgação do mito no nordeste brasileiro?
   Eu já enjoado do assunto, disse-lhe, citando Camões: Que cessem as amazonas e as musas do sábio Grego e do Troiano. Da fama e das vitórias que tiveram; que eu canto o peito ilustre ango-brasileiro: A quem Nepturno e Marte obedeceram: Cesse tudo o que a Musa Antígua canta que outro valor mais alto se levanta! (poema de Luiz de Camões adaptado).  Por que não falar das amazonas angolanas e brasileiras? – Questionei.  Aquelas mulheres guerreiras que ajudaram a derrubar a ditadura no Brasil?  As que derrubaram preconceitos de toda a espécie e cada dia lutaram contra a dominação colonial, no caso de Angola, contra invasões estrangeiras, contra a cultura, política e religiões impostas, que se notabilizaram e não são muito faladas?  E que às vezes são deturpadas suas histórias?  Deturpadas?  Sim filha! Disse-lhe. É o caso da candidata Dilma, por exemplo.  Tanto Serra como ela foram militantes estudantis, em 1964, quando os militares, teimosos e arrogantes, resolveram dar um golpe militar no Brasil. Com alguns tanques nas ruas, muitas lideranças, sem compreenderem o momento histórico brasileiro foram para o Chile, França, Canadá, Holanda. Viveram o status de exilado político durante longos 16 anos. Outros, porém, foram verdadeiros heróis, que pagaram com suas próprias vidas, sofreram prisões e torturas infindáveis, realizaram lutas corajosas para que, hoje, possamos viver em democracia plena, votar livremente, ter liberdade de imprensa. Nesse grupo está Dilma Rousseff. Uma lutadora, fiel guerreira da solidariedade e da democracia. Foi presa e torturada. Não matou ninguém, ao contrário do que informa vários e-mails clandestinos que circulam Brasil afora. Somente por estes fatos, Dilma Rousseff guerreira, deve ser considerada uma heroína e não terrorista! Os mal intencionados querem inverter tudo! Os ditadores passam a ser os heróis e os que lutaram contra eles e o seu terror, são considerados terroristas! Dá para entender isso? Outra coisa, minha filha, as mulheres são a maioria no Brasil e presença feminina no primeiro escalão das capitais brasileiras é, além de minguada, concentrada apenas áreas sociais. Com a Dilma, é uma grande oportunidade que as mulheres têm de estarem dignamente representadas! Afinal elas são a maioria... Segundo levantamento feito pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SEPM) nos recém-nomeados secretariados de 26 capitais mostra que 59,9% das mulheres titulares atuam apenas em áreas como educação e assistência social. O Centro Feminista de Estudos e Assessoria, Cfemea, diz que ainda não foi desconstruído o mito de que as mulheres são naturalmente adequadas apenas para o espaço privado - a casa e a família!  Não podemos tratar isso como uma mera coincidência, como se as mulheres não se interessassem por outras áreas!  Na verdade, mesmo com qualificação igual ou superior ao homem, as mulheres ganham menos e são descriminadas. E pior, do que isso, ainda há barreiras de desconfiança em relação à capacidade das mulheres de liderar e de lidar com cargos públicos no primeiro escalão. Uma pesquisa feita recentemente sobre um retrato da sub-representação feminina nas secretarias e constatou que apenas 19,9% desses cargos de confiança são ocupados por mulheres e que São Paulo ficou com o posto de segunda pior capital no quesito equilíbrio de gêneros em seu secretariado. Isso acontece também no âmbito federal!  Não há dúvida de que o poder é uma cena masculina, as mulheres são preteridas na política e em algumas áreas específicas. Está longe o dia em que os homens vão aceitar as mulheres atuando na política em pé de igualdade.  Mas verdade, também, que alguns homens lutaram sempre a favor das mulheres. Há um dado histórico interessante e que vem a propósito do assunto.  Ao contrário dos outros países, o movimento pelo voto feminino no Brasil partiu de um homem, o constituinte, baiano, médico e intelectual Cezar Zama, que na sessão se 30 de setembro de 1890. Durante os trabalhos de elaboração da primeira Constituição Republicana, defendeu o sufrágio universal, a fim de que as mulheres pudessem participar efetivamente da vida política do país. Em 1891, 31 constituintes assinaram uma emenda ao projeto de constituição de autoria de Saldanha Marinho, conferindo voto à mulher brasileira. Em Minas Gerais, em 1905, três mulheres se alistaram e votaram, mas foi um caso isolado. Em 1917, o deputado Maurício de Lacerda, apresentou a emenda nº 47, de 12 de março daquele ano, que alterava a lei eleitoral de 1916, e incluía o alistamento das mulheres maiores de 21 anos. Essa emenda foi rejeitada pela comissão de justiça, cujo relator Afrânio de Mello Franco a julgou inconstitucional por ter um grupo de mulheres presentes que era contra o voto feminino e nessa ocasião afirmou: “as mulheres brasileiras, em sua grande maioria, recusariam o exercício do direito de voto político, se este lhe fosse concedido” Em 2010, a história se repete, é um homem que apresenta uma candidata para a Presidência da República com chances de ganhar. É bom que as brasileiras não percam a boa chance de terem uma mulher na presidência! O Brasil podia ser o primeiro país a ter o voto feminino...  Mas naquela altura as próprias mulheres recusaram o exercício do direito ao voto!  Agora não percam mais uma oportunidade!  É bom refletirem...


domingo, 10 de outubro de 2010

O dia que um Ngola descobriu Portugal: Romance histórico ou história de um romance?


Há muito tempo, nosso acesso aos eventos sociais era unilateral: os livros apresentavam os fatos a partir da visão do colonizador, uma visão ditatorial e antidemocrática que para nossa ingênua imaturidade não passavam de fatos povoados de “bravos heróis”, distantes da nossa realidade. (Alguns desses heróis tiveram sua representação na literatura brasileira do século XIX, durante o Romantismo). Até mesmo nossa visão de herói era questionável. Afinal, em que arquétipo de herói se enquadram os personagens dos eventos históricos na sociedade contemporânea, ou melhor, o que os torna heróis: sua história ou seu drama, sua ousadia, sua tragédia ou quem sabe sua comicidade? Depende de a quem esse herói está representando, de que lado ele se encontra: do colonizado ou do colonizador.
A partir da conquista da liberdade de expressão, da democratização dos eventos sociais, a história perde sua versão romântica, e passa a ser observada com mais criticidade. Essa visão crítica da história impulsiona a criação da obra literária realista, e sua interpretação pode ser feita a partir de diferentes perspectivas: do autor, do descendente, do expectador, do confessor, do colonizado/dominado, do colonizador/dominador e do historiador.
Paul Veyne afirma ser a história assim como o romance uma narrativa de eventos simplificados, organizados e sintetizados. E essa síntese narrativa é tão espontânea quanto a da nossa memória quando evocamos o passado. A narração histórica situa-se para além de todos os documentos, já que nenhum deles pode ser o próprio evento. A história nos interessa porque narra, é anedótica, assim como o romance. O que diferencia a história do romance é que a história é diegesis interessa a verdade, e o romance é mimesis,  interessa a narrativa. 
 Com isso podemos afirmar que tanto a história quanto o romance são respectivamente mimesis e diegesis; que à Literatura cabe o papel de estreitar os laços do leitor com a história e cultura, tornando assim mais fácil compreendê-la inserida em determinado contexto.
Romance histórico ou uma visão romanceada da história, O dia em que um Ngola descobriu Portugal é, ao mesmo tempo, romance e narrativa de um contexto. O que nos leva a estreitar os laços com a história e cultura angolanas.  O autor, ango-brasileiro, apresenta-nos sua leitura dos eventos ocorridos entre os séculos XV e XVII, da história da colonização dos países africanos e, consequente tráfico negreiro para a mais nova colônia portuguesa, o Brasil como também aos países europeus. A história aqui simplifica, sintetiza e organiza os eventos. O romance dá conta daquilo que a memória histórica não consegue reviver, mas que é parte inseparável da cultura. Isto explica a presença e importância do contexto na criação da obra literária.
É um romance denso, com forte carga significativa, (O dia em que um Ngola descobriu Portugal) e uma viagem definitiva e decisiva para compreensão da parte noturna da história das três nações: Portugal, Brasil e África. O irônico de tudo isso é que Zumbi fez a viagem ao contrário. É como se num ato de utópica vingança o autor angolano quisesse mudar o rumo da história: Nganga Nzumba é preado em Angola e transportado ao Brasil como mercadoria num navio negreiro e, ao voltar às origens, tem o propósito de descobrir Portugal. O herói da resistência negra no Brasil, Zumbi dos Palmares nesse romance, é angolano Nganga Nzumba filho da rainha escravagista Njinga Mbandi. Aqui no Brasil consegue livrar-se da escravidão, funda Palmares e transforma-se em líder.
Esses expedientes criados pelo autor, João Portelinha D’Angola, inserem sua obra na categoria de romance paradidático, pois além das tantas informações disponíveis, instiga o leitor à pesquisa e, ao mesmo tempo envolve-o na trama narrativa,  estreitando seu vínculo com a história e cultura das ex - colônias portuguesas. Uma vez que a história é uma narrativa de eventos, cultura e romance, pode-se dizer desse paradidático romance que ele se enquadra na categoria tanto de romance histórico quanto na história de um romance, por vezes com heróis trágicos, vencidos e vencedores que fazem parte da nossa história de país colonizado com muitas manchas indeléveis.
Um texto bem elaborado de “fácil acesso vocabular” (com muitas notas explicativas), iconoclasta e revelador.
Tereza Ramos de Carvalho.
 

O dia que um Ngola descobriu Portugal - Romance histórico ou história de um romance?

            
                        
Há muito tempo, nosso acesso aos eventos sociais era unilateral: os livros apresentavam os fatos a partir da visão do colonizador, uma visão ditatorial e antidemocrática que para nossa ingênua imaturidade não passavam de fatos povoados de “bravos heróis”, distantes da nossa realidade. (Alguns desses heróis tiveram sua representação na literatura brasileira do século XIX, durante o Romantismo). Até mesmo nossa visão de herói era questionável. Afinal, em que arquétipo de herói se enquadram os personagens dos eventos históricos na sociedade contemporânea, ou melhor, o que os torna heróis: sua história ou seu drama, sua ousadia, sua tragédia ou quem sabe sua comicidade? Depende de a quem esse herói está representando, de que lado ele se encontra: do colonizado ou do colonizador.
A partir da conquista da liberdade de expressão, da democratização dos eventos sociais, a história perde sua versão romântica, e passa a ser observada com mais criticidade. Essa visão crítica da história impulsiona a criação da obra literária realista, e sua interpretação pode ser feita a partir de diferentes perspectivas: do autor, do descendente, do expectador, do confessor, do colonizado/dominado, do colonizador/dominador e do historiador.
Paul Veyne afirma ser a história assim como o romance uma narrativa de eventos simplificados, organizados e sintetizados. E essa síntese narrativa é tão espontânea quanto a da nossa memória quando evocamos o passado. A narração histórica situa-se para além de todos os documentos, já que nenhum deles pode ser o próprio evento. A história nos interessa porque narra, é anedótica, assim como o romance. O que diferencia a história do romance é que a história é diegesis interessa a verdade, e o romance é mimesis,  interessa a narrativa. 
 Com isso podemos afirmar que tanto a história quanto o romance são respectivamente mimesis e diegesis; que à Literatura cabe o papel de estreitar os laços do leitor com a história e cultura, tornando assim mais fácil compreendê-la inserida em determinado contexto.
Romance histórico ou uma visão romanceada da história, O dia em que um Ngola descobriu Portugal é, ao mesmo tempo, romance e narrativa de um contexto. O que nos leva a estreitar os laços com a história e cultura angolanas.  O autor, ango-brasileiro, apresenta-nos sua leitura dos eventos ocorridos entre os séculos XV e XVII, da história da colonização dos países africanos e, consequente tráfico negreiro para a mais nova colônia portuguesa, o Brasil como também aos países europeus. A história aqui simplifica, sintetiza e organiza os eventos. O romance dá conta daquilo que a memória histórica não consegue reviver, mas que é parte inseparável da cultura. Isto explica a presença e importância do contexto na criação da obra literária.
É um romance denso, com forte carga significativa, (O dia em que um Ngola descobriu Portugal) e uma viagem definitiva e decisiva para compreensão da parte noturna da história das três nações: Portugal, Brasil e África. O irônico de tudo isso é que Zumbi fez a viagem ao contrário. É como se num ato de utópica vingança o autor angolano quisesse mudar o rumo da história: Nganga Nzumba é preado em Angola e transportado ao Brasil como mercadoria num navio negreiro e, ao voltar às origens, tem o propósito de descobrir Portugal. O herói da resistência negra no Brasil, Zumbi dos Palmares nesse romance, é angolano Nganga Nzumba filho da rainha escravagista Njinga Mbandi. Aqui no Brasil consegue livrar-se da escravidão, funda Palmares e transforma-se em líder.
Esses expedientes criados pelo autor, João Portelinha D’Angola, inserem sua obra na categoria de romance paradidático, pois além das tantas informações disponíveis, instiga o leitor à pesquisa e, ao mesmo tempo envolve-o na trama narrativa,  estreitando seu vínculo com a história e cultura das ex - colônias portuguesas. Uma vez que a história é uma narrativa de eventos, cultura e romance, pode-se dizer desse paradidático romance que ele se enquadra na categoria tanto de romance histórico quanto na história de um romance, por vezes com heróis trágicos, vencidos e vencedores que fazem parte da nossa história de país colonizado com muitas manchas indeléveis.
Um texto bem elaborado de “fácil acesso vocabular” (com muitas notas explicativas), iconoclasta e revelador. 
Tereza Ramos de Carvalho.


O descritivismo pictorial em O DIA QUE UM NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL


 


João Rodrigues Portelinha da Silva é romancista, contista, ensaísta, cronista e nas horas vagas, como ele próprio diz, poeta... Tomou como tema de seu romance exclusivamente consagrado ao emocionante relato da escravidão em Angola e no Brasil... Desde o começo de sua obra, teve a ambição de reproduzir com realismo o que foi o infame comércio de escravos, de maneira mais verídica e mais completa e nos mínimos detalhes, sem buscar evitar o que pudesse haver de banal ou mesmo de desagradável em tudo quanto lhe impressionara sobre a escravidão do seu continente e das duas terras que ama de paixão: Angola, a mãe preta, e o Brasil, seu filho mestiço... A obra é feita de observação puramente naturalista, com uma ampla parte psicológica das ações, bem como sentimentos dos personagens que retratou. Só pelas qualidades do estilista satisfez às leis da estética. Seu estilo é artisticamente formado, transparente e simples, fácil e claro, conduto pessoal, onde mistura realidade com ficção e, plasticamente expressiva. Mesmo nos seus livros anteriores de contos particularmente deixa entrever a sua mestria – que, aliás, de resto, angolanos e brasileiros lhe reconhecem -. Mas é nas descrições da natureza, da dor e dos sentimentos que tais qualidades se mostram mais sedutoras. Nos destinos humanos que pode descrever, sobra pouco lugar para alegria. Os quadros são mais frequentemente de cores muito sombrias, mas a força invocadora dos seus heróis jamais se enfraquece. Este romance constitui, sem dúvida, um tour de force como pintura audaciosa e amarga da vida que nos faz lembrar Brecht com suas pinturas sobre a escravidão no Brasil. Intitulou o seu primeiro romance O DIA QUE UM NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL, pensando na epopeia do reino do Ndongo e de outros povos que constituem hoje Angola e a maior parte do Brasil. O personagem principal que Portelinha escolheu para o romance, foi à formosa e lendária rainha Njinga Mbandi e o Nganga Nzumba (Zumbi dos Palmares) que na ficção são mãe e filho, mas que na realidade, embora não sejam, viveram na mesma época, e têm a mesma origem, a dos Jagas. Nzambi transportado para o Brasil como escravo é um joguete dos que o cercam, desdenhado e maltratado, como todos os outros escravos, não obstante ser “filho” de uma lendária rainha angolana. Pode-se perguntar se fora do Brasil, noutra condição social, ele teria se tornado, verdadeiramente um grande herói na luta contra a escravidão como na realidade foi e, como de resto, é bem ilustrado e romanceado pelo autor. Na realidade são poucos momentos de ficção nesta obra... Poderíamos dizer que é a realidade romanceada pelo autor. As datas, os acontecimentos, os autores, os personagens, com exceção de Tchinjila, amigo e escravo de Nzambi são reais. No decorrer deste triste episódio, que foi a escravatura, o autor se compraz em descobrir a beleza da natureza humana; liberto de toda doutrina psicanalítica, permaneceu simplesmente poeta, e soube criar a poesia pura com um traço de grandeza.
As amplas perspectivas sobre o verde doce e fresco circundado de rios azuis que brilham em todo esplendor. Há magia e a beleza retratada das florestas africanas e brasileiras com toda sua pujança circunstanciada com toda sua fauna em movimento; o barulho dos gravetos secos caindo das árvores e dos macaquinhos que pulam de haste em haste fazendo algum barulho é de extrema beleza. Encontra-se aí um sentido da vida que não nasce de um gosto puramente literário, um esforço rumo à influência livre, plena e inteira da beleza... Tudo vibra no infinito e na calma do espaço.
A análise dos personagens alcança uma profundidade notável em sua rapidez e leveza, essas figuras humanas se harmonizam com a fuga das nuvens, com o cair das chuvas, com o aparecimento do arco-íris e o seu jogo de luz, do crepúsculo à aurora de um dia novo. Graças à arte tão sutil do escritor, as palavras ganham certa ressonância e a sua música assemelha-se à de um violino de raios de luz e de cores. No entanto, se quisermos considerar esta obra tão somente no plano artístico ou literário, mesmo assim, não deixaria de ser uma obra original e importante para pesquisa mais do que qualquer daquelas obras consideradas “romances históricos” que o precedeu sobre a temática escravidão em Angola e na América Latina.
  É verdade que o “romance histórico” na América Latina e em Angola não começou propriamente com João Portelinha. Nem tampouco a temática sobre a escravidão.  Aqui, na América Latina, por exemplo, começa com a publicação de O reino deste mundo (1949), do cubano Alejo Carpentier, que assim, como consequência, provocou um ciclo de intensa publicação, tanto de romances históricos tradicionais, nas décadas de 1960 e 70, como também em outros países, não sendo exceção Angola, pátria do autor, cuja publicação de Njinga Mbandi (1979) de Manuel Pacavira, confirma uma produção com muitas características do romance histórico. No entanto, os textos de O reino deste Mundo, de Carpintier, referem-se às populações africanas, sobretudo da Guiné, que foram para América como escravos, mas as populações de Angola sequestradas para este continente não são propriamente os heróis do caribe, onde se encontravam predominantemente as populações da Guiné. As populações de Angola construíram outras histórias de resistência na América Latina como a do Quilombo dos Palmares, no Brasil, liderados por Nganga Nzumba que, aqui, de uma forma inédita e magistral é abordada em estilo de romance por João Portelinha.
  A publicação deste gênero de literatura cujas características formais e discursivas diferem em alguns pontos do romance histórico teorizado por Georg Lukács em seu Le roman historique (1965) propõe uma continuação do (sub) gênero que se desenvolve em diferentes partes do mundo e que é denominada como “novo romance histórico” de características estéticas e formais inovadoras, a ironia, a paródia e as categorias da carnavalização (Bakhlin, 1981, p. 104-7), que surgem, aqui, neste livro, com algumas das estruturas desse novo subgênero do romance. Desta maneira, é possível observar o trânsito de patterns literários no interior de um projeto cultural que inclui escritores em Portugal e Angola, considerando as produções de novos romances históricos: a Gloriosa Família: o Tempo dos Flamengos, de Pepetela, o Memorial do Convento, de José Saramago e, agora, O Dia que um Ngola Descobriu Portugal, do escritor e professor João Portelinha d´Angola, que pela sua singularidade, pode também ser comparada a Negras Raízes do premiado escritor afro-americano Alex Haley!
                                    Drª. Helga Féti
 Cantora, atriz, apresentadora e crítica de Literatura angolana




sábado, 9 de outubro de 2010

O DIA QUE UM NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

                             Sinopse do Romance 


João Portelinha, que já conhecemos de Crônicas de Risos e Lágrimas, no qual nos apresenta Angola com a familiaridade de quem sofreu as dores do parto da recentíssima liberdade, esclarecendo-nos quanto à influência angolana no constituir do Brasil, assesta agora, com O dia em que um ngola descobriu Portugalsua aguda visão para além-mar, fazendo, literariamente, duas pontes: uma geográfica, reconstituindo o período histórico que uniu firmemente África (particularmente Angola), Brasil e Portugal pelas cadeias da escravatura, e outra, esta uma ponte ideológica, fazendo o mesmo roteiro, em sentido inverso, na intencionalidade de uma vingança histórica.
João Portelinha, agora João Portelinha D’Angola, dá-nos a conhecer em O dia em que um ngola descobriu Portugal, o espírito guerreiro que o anima à incursão de revanche pelo domínio sofrido e, ao mesmo tempo, revela-nos a fineza do literato que, munido do recurso das letras e de acontecimentos históricos, reconstitui idealmente a história de seu próprio povo, o povo de Angola, de modo a vivenciar um novo desfecho.Trata-se de um romance ficcional, ainda que completamente embasado em fatos históricos, palco no qual o Brasil entra como ator coadjuvante, berço que foi de Nganga Nzumba (o nosso brasileiríssimo Ganga Zumba) e continente do território de um povo que ousou levantar-se contra os grilhões da escravatura: Palmares. Apesar de coadjuvante, e palco das demonstrações do que havia de mais desumano e violento no período em pauta, encarna o Brasil o espírito libertário de Nganga Nzumba que, na também libertária pena de João Portelinha D’Angola, transcende as limitações de seu tempo e de sua condição de inimigo do reino para vencer e conquistar a terra mesma dos conquistadores de seu próprio povo.
O dia em que um ngola descobriu Portugal é muito mais que a ficção de um período histórico; é antes e, além disso, um grito de liberdade que ecoa por três continentes e que ainda hoje se faz necessário ser gritar e ser ouvido, pois se foram modificados os modos, os atores e as ferramentas de dominação, a dominação em si continua, já sem a rota específica da dor, como a tínhamos então, mas amplamente difundida na prática aviltante da exploração do ser humano, independentemente de sua condição social, cultura ou região de origem.


        Em suma, o que deveria ter morrido com o período da selvageria embasada no preconceito, medra com toda a pujança nos meios que nos parecem mais plenos de humanidade, explorando o homem nos seus vários aspectos: físico, emocional, mental, devocional. O grito de liberdade de Nganga Nzumba deixou, com O dia em que um ngola descobriu Portugal, seu nicho circunscrito no tempo para ganhar a dimensão global em que existimos, comprovando que o tempo passou, as condições de domínio político passaram, mas a dignidade humana continua a carecer de respeito e liberdade. Texto do poeta Casagrande