sábado, 16 de outubro de 2010

CONVERSA COM A LOARA SOBRE DILMA

                  
 A minha filha Loara está pesquisando, tanto em livros quanto na internet, tudo que se relaciona com as “Amazonas”!  E é todos os dias aquela coisa... O pai sabia que no séc. III a.C. as Amazonas já teriam atingido a Grécia, antes apenas se conheciam localizadas na Ásia Menor e que durante séculos as suas estórias povoaram os imaginários de Gregos e Romanos e mais tarde com Colombo o mito foi transposto para o Novo Mundo?  Que a presença das famosas guerreiras na guerra  de Tróia ficou como elemento importante do mito e na Ilíada. Príamo recorda os tempos em que ele e os seus homens as combateram. Eles consideravam-nas mesmo «antineirai» que significa «equivalente aos homens», portanto seus pares. O herói da Ilíada Aquiles travará um combate com Pentesileia, rainha das Amazonas!   Sim, minha filha, inclusive os especialistas dizem que mito das Amazonas encontra-se em todos os continentes, excepto na Oceânia. Elas são dadas como certas na  China, nas «ilhas misteriosas», em relatos de navegadores árabes do séc. XI a XIII. Através do folclore da Escandinávia, da Rússia, da Boemia, de África e das Índias... Podemos seguir o rasto de relatos da sua existência e concluir que as Amazonas impressionaram vivamente homens de todos os tempos. Elas foram e são um tema recorrente e têm servido de inspiração a obras literárias e seduziram e seduzem pintores, escultores, compositores, autores de teatro. Isso tudo, caros leitores, explicado por mim para não “fazer feio” numa discussão com uma “especialista” de treze anos que passa a vida vasculhando tudo sobre o seu predileto objeto de estudo – AS AMAZONAS!
        Houve uns dias de trégua, mas ontem voltou à carga... O pai sabia que na América Portuguesa também se divulgou o mito. Em 1576, Pêro de Magalhães Gândavo chamava ao grande rio Maranhão «Rio das Amazonas» comprovando a divulgação do mito no nordeste brasileiro?
   Eu já enjoado do assunto, disse-lhe, citando Camões: Que cessem as amazonas e as musas do sábio Grego e do Troiano. Da fama e das vitórias que tiveram; que eu canto o peito ilustre ango-brasileiro: A quem Nepturno e Marte obedeceram: Cesse tudo o que a Musa Antígua canta que outro valor mais alto se levanta! (poema de Luiz de Camões adaptado).  Por que não falar das amazonas angolanas e brasileiras? – Questionei.  Aquelas mulheres guerreiras que ajudaram a derrubar a ditadura no Brasil?  As que derrubaram preconceitos de toda a espécie e cada dia lutaram contra a dominação colonial, no caso de Angola, contra invasões estrangeiras, contra a cultura, política e religiões impostas, que se notabilizaram e não são muito faladas?  E que às vezes são deturpadas suas histórias?  Deturpadas?  Sim filha! Disse-lhe. É o caso da candidata Dilma, por exemplo.  Tanto Serra como ela foram militantes estudantis, em 1964, quando os militares, teimosos e arrogantes, resolveram dar um golpe militar no Brasil. Com alguns tanques nas ruas, muitas lideranças, sem compreenderem o momento histórico brasileiro foram para o Chile, França, Canadá, Holanda. Viveram o status de exilado político durante longos 16 anos. Outros, porém, foram verdadeiros heróis, que pagaram com suas próprias vidas, sofreram prisões e torturas infindáveis, realizaram lutas corajosas para que, hoje, possamos viver em democracia plena, votar livremente, ter liberdade de imprensa. Nesse grupo está Dilma Rousseff. Uma lutadora, fiel guerreira da solidariedade e da democracia. Foi presa e torturada. Não matou ninguém, ao contrário do que informa vários e-mails clandestinos que circulam Brasil afora. Somente por estes fatos, Dilma Rousseff guerreira, deve ser considerada uma heroína e não terrorista! Os mal intencionados querem inverter tudo! Os ditadores passam a ser os heróis e os que lutaram contra eles e o seu terror, são considerados terroristas! Dá para entender isso? Outra coisa, minha filha, as mulheres são a maioria no Brasil e presença feminina no primeiro escalão das capitais brasileiras é, além de minguada, concentrada apenas áreas sociais. Com a Dilma, é uma grande oportunidade que as mulheres têm de estarem dignamente representadas! Afinal elas são a maioria... Segundo levantamento feito pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SEPM) nos recém-nomeados secretariados de 26 capitais mostra que 59,9% das mulheres titulares atuam apenas em áreas como educação e assistência social. O Centro Feminista de Estudos e Assessoria, Cfemea, diz que ainda não foi desconstruído o mito de que as mulheres são naturalmente adequadas apenas para o espaço privado - a casa e a família!  Não podemos tratar isso como uma mera coincidência, como se as mulheres não se interessassem por outras áreas!  Na verdade, mesmo com qualificação igual ou superior ao homem, as mulheres ganham menos e são descriminadas. E pior, do que isso, ainda há barreiras de desconfiança em relação à capacidade das mulheres de liderar e de lidar com cargos públicos no primeiro escalão. Uma pesquisa feita recentemente sobre um retrato da sub-representação feminina nas secretarias e constatou que apenas 19,9% desses cargos de confiança são ocupados por mulheres e que São Paulo ficou com o posto de segunda pior capital no quesito equilíbrio de gêneros em seu secretariado. Isso acontece também no âmbito federal!  Não há dúvida de que o poder é uma cena masculina, as mulheres são preteridas na política e em algumas áreas específicas. Está longe o dia em que os homens vão aceitar as mulheres atuando na política em pé de igualdade.  Mas verdade, também, que alguns homens lutaram sempre a favor das mulheres. Há um dado histórico interessante e que vem a propósito do assunto.  Ao contrário dos outros países, o movimento pelo voto feminino no Brasil partiu de um homem, o constituinte, baiano, médico e intelectual Cezar Zama, que na sessão se 30 de setembro de 1890. Durante os trabalhos de elaboração da primeira Constituição Republicana, defendeu o sufrágio universal, a fim de que as mulheres pudessem participar efetivamente da vida política do país. Em 1891, 31 constituintes assinaram uma emenda ao projeto de constituição de autoria de Saldanha Marinho, conferindo voto à mulher brasileira. Em Minas Gerais, em 1905, três mulheres se alistaram e votaram, mas foi um caso isolado. Em 1917, o deputado Maurício de Lacerda, apresentou a emenda nº 47, de 12 de março daquele ano, que alterava a lei eleitoral de 1916, e incluía o alistamento das mulheres maiores de 21 anos. Essa emenda foi rejeitada pela comissão de justiça, cujo relator Afrânio de Mello Franco a julgou inconstitucional por ter um grupo de mulheres presentes que era contra o voto feminino e nessa ocasião afirmou: “as mulheres brasileiras, em sua grande maioria, recusariam o exercício do direito de voto político, se este lhe fosse concedido” Em 2010, a história se repete, é um homem que apresenta uma candidata para a Presidência da República com chances de ganhar. É bom que as brasileiras não percam a boa chance de terem uma mulher na presidência! O Brasil podia ser o primeiro país a ter o voto feminino...  Mas naquela altura as próprias mulheres recusaram o exercício do direito ao voto!  Agora não percam mais uma oportunidade!  É bom refletirem...


domingo, 10 de outubro de 2010

O dia que um Ngola descobriu Portugal: Romance histórico ou história de um romance?


Há muito tempo, nosso acesso aos eventos sociais era unilateral: os livros apresentavam os fatos a partir da visão do colonizador, uma visão ditatorial e antidemocrática que para nossa ingênua imaturidade não passavam de fatos povoados de “bravos heróis”, distantes da nossa realidade. (Alguns desses heróis tiveram sua representação na literatura brasileira do século XIX, durante o Romantismo). Até mesmo nossa visão de herói era questionável. Afinal, em que arquétipo de herói se enquadram os personagens dos eventos históricos na sociedade contemporânea, ou melhor, o que os torna heróis: sua história ou seu drama, sua ousadia, sua tragédia ou quem sabe sua comicidade? Depende de a quem esse herói está representando, de que lado ele se encontra: do colonizado ou do colonizador.
A partir da conquista da liberdade de expressão, da democratização dos eventos sociais, a história perde sua versão romântica, e passa a ser observada com mais criticidade. Essa visão crítica da história impulsiona a criação da obra literária realista, e sua interpretação pode ser feita a partir de diferentes perspectivas: do autor, do descendente, do expectador, do confessor, do colonizado/dominado, do colonizador/dominador e do historiador.
Paul Veyne afirma ser a história assim como o romance uma narrativa de eventos simplificados, organizados e sintetizados. E essa síntese narrativa é tão espontânea quanto a da nossa memória quando evocamos o passado. A narração histórica situa-se para além de todos os documentos, já que nenhum deles pode ser o próprio evento. A história nos interessa porque narra, é anedótica, assim como o romance. O que diferencia a história do romance é que a história é diegesis interessa a verdade, e o romance é mimesis,  interessa a narrativa. 
 Com isso podemos afirmar que tanto a história quanto o romance são respectivamente mimesis e diegesis; que à Literatura cabe o papel de estreitar os laços do leitor com a história e cultura, tornando assim mais fácil compreendê-la inserida em determinado contexto.
Romance histórico ou uma visão romanceada da história, O dia em que um Ngola descobriu Portugal é, ao mesmo tempo, romance e narrativa de um contexto. O que nos leva a estreitar os laços com a história e cultura angolanas.  O autor, ango-brasileiro, apresenta-nos sua leitura dos eventos ocorridos entre os séculos XV e XVII, da história da colonização dos países africanos e, consequente tráfico negreiro para a mais nova colônia portuguesa, o Brasil como também aos países europeus. A história aqui simplifica, sintetiza e organiza os eventos. O romance dá conta daquilo que a memória histórica não consegue reviver, mas que é parte inseparável da cultura. Isto explica a presença e importância do contexto na criação da obra literária.
É um romance denso, com forte carga significativa, (O dia em que um Ngola descobriu Portugal) e uma viagem definitiva e decisiva para compreensão da parte noturna da história das três nações: Portugal, Brasil e África. O irônico de tudo isso é que Zumbi fez a viagem ao contrário. É como se num ato de utópica vingança o autor angolano quisesse mudar o rumo da história: Nganga Nzumba é preado em Angola e transportado ao Brasil como mercadoria num navio negreiro e, ao voltar às origens, tem o propósito de descobrir Portugal. O herói da resistência negra no Brasil, Zumbi dos Palmares nesse romance, é angolano Nganga Nzumba filho da rainha escravagista Njinga Mbandi. Aqui no Brasil consegue livrar-se da escravidão, funda Palmares e transforma-se em líder.
Esses expedientes criados pelo autor, João Portelinha D’Angola, inserem sua obra na categoria de romance paradidático, pois além das tantas informações disponíveis, instiga o leitor à pesquisa e, ao mesmo tempo envolve-o na trama narrativa,  estreitando seu vínculo com a história e cultura das ex - colônias portuguesas. Uma vez que a história é uma narrativa de eventos, cultura e romance, pode-se dizer desse paradidático romance que ele se enquadra na categoria tanto de romance histórico quanto na história de um romance, por vezes com heróis trágicos, vencidos e vencedores que fazem parte da nossa história de país colonizado com muitas manchas indeléveis.
Um texto bem elaborado de “fácil acesso vocabular” (com muitas notas explicativas), iconoclasta e revelador.
Tereza Ramos de Carvalho.
 

O dia que um Ngola descobriu Portugal - Romance histórico ou história de um romance?

            
                        
Há muito tempo, nosso acesso aos eventos sociais era unilateral: os livros apresentavam os fatos a partir da visão do colonizador, uma visão ditatorial e antidemocrática que para nossa ingênua imaturidade não passavam de fatos povoados de “bravos heróis”, distantes da nossa realidade. (Alguns desses heróis tiveram sua representação na literatura brasileira do século XIX, durante o Romantismo). Até mesmo nossa visão de herói era questionável. Afinal, em que arquétipo de herói se enquadram os personagens dos eventos históricos na sociedade contemporânea, ou melhor, o que os torna heróis: sua história ou seu drama, sua ousadia, sua tragédia ou quem sabe sua comicidade? Depende de a quem esse herói está representando, de que lado ele se encontra: do colonizado ou do colonizador.
A partir da conquista da liberdade de expressão, da democratização dos eventos sociais, a história perde sua versão romântica, e passa a ser observada com mais criticidade. Essa visão crítica da história impulsiona a criação da obra literária realista, e sua interpretação pode ser feita a partir de diferentes perspectivas: do autor, do descendente, do expectador, do confessor, do colonizado/dominado, do colonizador/dominador e do historiador.
Paul Veyne afirma ser a história assim como o romance uma narrativa de eventos simplificados, organizados e sintetizados. E essa síntese narrativa é tão espontânea quanto a da nossa memória quando evocamos o passado. A narração histórica situa-se para além de todos os documentos, já que nenhum deles pode ser o próprio evento. A história nos interessa porque narra, é anedótica, assim como o romance. O que diferencia a história do romance é que a história é diegesis interessa a verdade, e o romance é mimesis,  interessa a narrativa. 
 Com isso podemos afirmar que tanto a história quanto o romance são respectivamente mimesis e diegesis; que à Literatura cabe o papel de estreitar os laços do leitor com a história e cultura, tornando assim mais fácil compreendê-la inserida em determinado contexto.
Romance histórico ou uma visão romanceada da história, O dia em que um Ngola descobriu Portugal é, ao mesmo tempo, romance e narrativa de um contexto. O que nos leva a estreitar os laços com a história e cultura angolanas.  O autor, ango-brasileiro, apresenta-nos sua leitura dos eventos ocorridos entre os séculos XV e XVII, da história da colonização dos países africanos e, consequente tráfico negreiro para a mais nova colônia portuguesa, o Brasil como também aos países europeus. A história aqui simplifica, sintetiza e organiza os eventos. O romance dá conta daquilo que a memória histórica não consegue reviver, mas que é parte inseparável da cultura. Isto explica a presença e importância do contexto na criação da obra literária.
É um romance denso, com forte carga significativa, (O dia em que um Ngola descobriu Portugal) e uma viagem definitiva e decisiva para compreensão da parte noturna da história das três nações: Portugal, Brasil e África. O irônico de tudo isso é que Zumbi fez a viagem ao contrário. É como se num ato de utópica vingança o autor angolano quisesse mudar o rumo da história: Nganga Nzumba é preado em Angola e transportado ao Brasil como mercadoria num navio negreiro e, ao voltar às origens, tem o propósito de descobrir Portugal. O herói da resistência negra no Brasil, Zumbi dos Palmares nesse romance, é angolano Nganga Nzumba filho da rainha escravagista Njinga Mbandi. Aqui no Brasil consegue livrar-se da escravidão, funda Palmares e transforma-se em líder.
Esses expedientes criados pelo autor, João Portelinha D’Angola, inserem sua obra na categoria de romance paradidático, pois além das tantas informações disponíveis, instiga o leitor à pesquisa e, ao mesmo tempo envolve-o na trama narrativa,  estreitando seu vínculo com a história e cultura das ex - colônias portuguesas. Uma vez que a história é uma narrativa de eventos, cultura e romance, pode-se dizer desse paradidático romance que ele se enquadra na categoria tanto de romance histórico quanto na história de um romance, por vezes com heróis trágicos, vencidos e vencedores que fazem parte da nossa história de país colonizado com muitas manchas indeléveis.
Um texto bem elaborado de “fácil acesso vocabular” (com muitas notas explicativas), iconoclasta e revelador. 
Tereza Ramos de Carvalho.


O descritivismo pictorial em O DIA QUE UM NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL


 


João Rodrigues Portelinha da Silva é romancista, contista, ensaísta, cronista e nas horas vagas, como ele próprio diz, poeta... Tomou como tema de seu romance exclusivamente consagrado ao emocionante relato da escravidão em Angola e no Brasil... Desde o começo de sua obra, teve a ambição de reproduzir com realismo o que foi o infame comércio de escravos, de maneira mais verídica e mais completa e nos mínimos detalhes, sem buscar evitar o que pudesse haver de banal ou mesmo de desagradável em tudo quanto lhe impressionara sobre a escravidão do seu continente e das duas terras que ama de paixão: Angola, a mãe preta, e o Brasil, seu filho mestiço... A obra é feita de observação puramente naturalista, com uma ampla parte psicológica das ações, bem como sentimentos dos personagens que retratou. Só pelas qualidades do estilista satisfez às leis da estética. Seu estilo é artisticamente formado, transparente e simples, fácil e claro, conduto pessoal, onde mistura realidade com ficção e, plasticamente expressiva. Mesmo nos seus livros anteriores de contos particularmente deixa entrever a sua mestria – que, aliás, de resto, angolanos e brasileiros lhe reconhecem -. Mas é nas descrições da natureza, da dor e dos sentimentos que tais qualidades se mostram mais sedutoras. Nos destinos humanos que pode descrever, sobra pouco lugar para alegria. Os quadros são mais frequentemente de cores muito sombrias, mas a força invocadora dos seus heróis jamais se enfraquece. Este romance constitui, sem dúvida, um tour de force como pintura audaciosa e amarga da vida que nos faz lembrar Brecht com suas pinturas sobre a escravidão no Brasil. Intitulou o seu primeiro romance O DIA QUE UM NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL, pensando na epopeia do reino do Ndongo e de outros povos que constituem hoje Angola e a maior parte do Brasil. O personagem principal que Portelinha escolheu para o romance, foi à formosa e lendária rainha Njinga Mbandi e o Nganga Nzumba (Zumbi dos Palmares) que na ficção são mãe e filho, mas que na realidade, embora não sejam, viveram na mesma época, e têm a mesma origem, a dos Jagas. Nzambi transportado para o Brasil como escravo é um joguete dos que o cercam, desdenhado e maltratado, como todos os outros escravos, não obstante ser “filho” de uma lendária rainha angolana. Pode-se perguntar se fora do Brasil, noutra condição social, ele teria se tornado, verdadeiramente um grande herói na luta contra a escravidão como na realidade foi e, como de resto, é bem ilustrado e romanceado pelo autor. Na realidade são poucos momentos de ficção nesta obra... Poderíamos dizer que é a realidade romanceada pelo autor. As datas, os acontecimentos, os autores, os personagens, com exceção de Tchinjila, amigo e escravo de Nzambi são reais. No decorrer deste triste episódio, que foi a escravatura, o autor se compraz em descobrir a beleza da natureza humana; liberto de toda doutrina psicanalítica, permaneceu simplesmente poeta, e soube criar a poesia pura com um traço de grandeza.
As amplas perspectivas sobre o verde doce e fresco circundado de rios azuis que brilham em todo esplendor. Há magia e a beleza retratada das florestas africanas e brasileiras com toda sua pujança circunstanciada com toda sua fauna em movimento; o barulho dos gravetos secos caindo das árvores e dos macaquinhos que pulam de haste em haste fazendo algum barulho é de extrema beleza. Encontra-se aí um sentido da vida que não nasce de um gosto puramente literário, um esforço rumo à influência livre, plena e inteira da beleza... Tudo vibra no infinito e na calma do espaço.
A análise dos personagens alcança uma profundidade notável em sua rapidez e leveza, essas figuras humanas se harmonizam com a fuga das nuvens, com o cair das chuvas, com o aparecimento do arco-íris e o seu jogo de luz, do crepúsculo à aurora de um dia novo. Graças à arte tão sutil do escritor, as palavras ganham certa ressonância e a sua música assemelha-se à de um violino de raios de luz e de cores. No entanto, se quisermos considerar esta obra tão somente no plano artístico ou literário, mesmo assim, não deixaria de ser uma obra original e importante para pesquisa mais do que qualquer daquelas obras consideradas “romances históricos” que o precedeu sobre a temática escravidão em Angola e na América Latina.
  É verdade que o “romance histórico” na América Latina e em Angola não começou propriamente com João Portelinha. Nem tampouco a temática sobre a escravidão.  Aqui, na América Latina, por exemplo, começa com a publicação de O reino deste mundo (1949), do cubano Alejo Carpentier, que assim, como consequência, provocou um ciclo de intensa publicação, tanto de romances históricos tradicionais, nas décadas de 1960 e 70, como também em outros países, não sendo exceção Angola, pátria do autor, cuja publicação de Njinga Mbandi (1979) de Manuel Pacavira, confirma uma produção com muitas características do romance histórico. No entanto, os textos de O reino deste Mundo, de Carpintier, referem-se às populações africanas, sobretudo da Guiné, que foram para América como escravos, mas as populações de Angola sequestradas para este continente não são propriamente os heróis do caribe, onde se encontravam predominantemente as populações da Guiné. As populações de Angola construíram outras histórias de resistência na América Latina como a do Quilombo dos Palmares, no Brasil, liderados por Nganga Nzumba que, aqui, de uma forma inédita e magistral é abordada em estilo de romance por João Portelinha.
  A publicação deste gênero de literatura cujas características formais e discursivas diferem em alguns pontos do romance histórico teorizado por Georg Lukács em seu Le roman historique (1965) propõe uma continuação do (sub) gênero que se desenvolve em diferentes partes do mundo e que é denominada como “novo romance histórico” de características estéticas e formais inovadoras, a ironia, a paródia e as categorias da carnavalização (Bakhlin, 1981, p. 104-7), que surgem, aqui, neste livro, com algumas das estruturas desse novo subgênero do romance. Desta maneira, é possível observar o trânsito de patterns literários no interior de um projeto cultural que inclui escritores em Portugal e Angola, considerando as produções de novos romances históricos: a Gloriosa Família: o Tempo dos Flamengos, de Pepetela, o Memorial do Convento, de José Saramago e, agora, O Dia que um Ngola Descobriu Portugal, do escritor e professor João Portelinha d´Angola, que pela sua singularidade, pode também ser comparada a Negras Raízes do premiado escritor afro-americano Alex Haley!
                                    Drª. Helga Féti
 Cantora, atriz, apresentadora e crítica de Literatura angolana




sábado, 9 de outubro de 2010

O DIA QUE UM NGOLA DESCOBRIU PORTUGAL

                             Sinopse do Romance 


João Portelinha, que já conhecemos de Crônicas de Risos e Lágrimas, no qual nos apresenta Angola com a familiaridade de quem sofreu as dores do parto da recentíssima liberdade, esclarecendo-nos quanto à influência angolana no constituir do Brasil, assesta agora, com O dia em que um ngola descobriu Portugalsua aguda visão para além-mar, fazendo, literariamente, duas pontes: uma geográfica, reconstituindo o período histórico que uniu firmemente África (particularmente Angola), Brasil e Portugal pelas cadeias da escravatura, e outra, esta uma ponte ideológica, fazendo o mesmo roteiro, em sentido inverso, na intencionalidade de uma vingança histórica.
João Portelinha, agora João Portelinha D’Angola, dá-nos a conhecer em O dia em que um ngola descobriu Portugal, o espírito guerreiro que o anima à incursão de revanche pelo domínio sofrido e, ao mesmo tempo, revela-nos a fineza do literato que, munido do recurso das letras e de acontecimentos históricos, reconstitui idealmente a história de seu próprio povo, o povo de Angola, de modo a vivenciar um novo desfecho.Trata-se de um romance ficcional, ainda que completamente embasado em fatos históricos, palco no qual o Brasil entra como ator coadjuvante, berço que foi de Nganga Nzumba (o nosso brasileiríssimo Ganga Zumba) e continente do território de um povo que ousou levantar-se contra os grilhões da escravatura: Palmares. Apesar de coadjuvante, e palco das demonstrações do que havia de mais desumano e violento no período em pauta, encarna o Brasil o espírito libertário de Nganga Nzumba que, na também libertária pena de João Portelinha D’Angola, transcende as limitações de seu tempo e de sua condição de inimigo do reino para vencer e conquistar a terra mesma dos conquistadores de seu próprio povo.
O dia em que um ngola descobriu Portugal é muito mais que a ficção de um período histórico; é antes e, além disso, um grito de liberdade que ecoa por três continentes e que ainda hoje se faz necessário ser gritar e ser ouvido, pois se foram modificados os modos, os atores e as ferramentas de dominação, a dominação em si continua, já sem a rota específica da dor, como a tínhamos então, mas amplamente difundida na prática aviltante da exploração do ser humano, independentemente de sua condição social, cultura ou região de origem.


        Em suma, o que deveria ter morrido com o período da selvageria embasada no preconceito, medra com toda a pujança nos meios que nos parecem mais plenos de humanidade, explorando o homem nos seus vários aspectos: físico, emocional, mental, devocional. O grito de liberdade de Nganga Nzumba deixou, com O dia em que um ngola descobriu Portugal, seu nicho circunscrito no tempo para ganhar a dimensão global em que existimos, comprovando que o tempo passou, as condições de domínio político passaram, mas a dignidade humana continua a carecer de respeito e liberdade. Texto do poeta Casagrande

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A IGREJA E A DILMA, QUEM TEM RAZÃO? PARA REFLEXÃO...

     

É bom conversar... Principalmente com gente inteligente! Como estamos em época de eleições geralmente as nossas conversas são sobre os nossos candidatos ao pleito, principalmente sobre o perfil dos presidenciáveis.
Tornou-se público nestes dias a estratégia político – religiosa de uma parcela da Igreja no sentido de “demonização do Partido dos trabalhadores do Brasil” e da sua candidata Dilma. Com efeito, ontem tive oportunidade de conversar sobre o assunto com três amigos, um dos quais é Doutor em Teologia pelo Vaticano. Com exceção do meu, o nome dos meus amigos aqui serão fictícios por não ter tido a oportunidade de lhes comunicar minha intenção de publicar a nossa maravilhosa conversa de ontem.

- Não crês Portelinha, na qualidade de cientista político, que as Igrejas devem participar na vida política do país, embora a laicidade seja uma conquista inegociável do nosso Estado brasileiro? Perguntou-me um dos meus amigos, José.

- Não vejo nenhum problema! Em regimes democráticos como o estado brasileiro, existem mecanismos de participação política e popular cuja finalidade é a construção de uma estrutura governamental cada vez participativa. Entendo, inclusive, que os ministros de confissão religiosa seja ela qual for, têm o direito de pleitearem cargos públicos enquanto cidadãos. Sem dúvida, a meu ver, todos os ramos das atividades salutares humanas que concorrem para o aprimoramento de todas as instituições e produzem um elevado padrão de vida física, material, moral, intelectual e espiritual de um povo (ou povos) devem ser buscados e cultivados pelos religiosos, inclusive a política! Outra coisa é fomentar boatos com fins escusos! Respondi.


- Olha, eu vejo com muita preocupação a posição de muitos lideres evangélicos e católicos manipularem seus membros no sentido de não votarem na Dilma com base em simples boatos e com discursos de fazer política partidária. É também função da Igreja essa responsabilidade?

- De fato essas Igrejas em vez de converterem os políticos ao Evangelho, eles é que se convertem em políticos profissionais! (rsrsrsrsrs). E o pior disso tudo, continuei, é que alguns deles apresentam-se como detentores de um mandato divino por serem pastores ou padres e passam a imagem de que também, agora, detém um mandato adjacente para atuarem na área de legislação e administração públicas.

- Vocês sabem que muitos pastores, inclusive a própria Igreja católica, pedem para que seus fieis não votem na candidata do PT? Dom Luiz Gonzaga Bergonzi, por exemplo, disse em entrevista ao GI que orientara os padres da cidade a pregar nas missas o voto contra a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Interroga Daniel.

- E são discursos difamatórios que quase sempre se caracterizam por exemplos isolados recortados da realidade! Uma das armas prediletas da difamação é sempre a manipulação, que se dá quase sempre pelo uso de falas e declarações retiradas do contexto maior de onde foram emitidas! Até já dizem que o Vice da Dilma é satanista e fazem campanha para que seus membros não votem na Dilma porque, segundo eles, ela “defende o aborto” Comentou José.

- Mas se não me engano foi José Serra, então Ministro da Saúde em novembro de 1998, que assinou uma Norma Técnica da sua pasta implantando o atendimento na rede SUS de toda mulher, vítima de violência sexual, interessada em praticar o aborto
- Inclusive, naquela altura, foi feito um manual que descrevia as técnicas a serem utilizadas! Disse José

- Olha, para sermos justos foi até defensável do ponto de vista de saúde pública!  Poderei

- E as Igrejas condenaram? Perguntou minha esposa.

- A Norma mereceu uma condenação enfática da 45ª Reunião da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
- Se quiseram – propôs José - eu até tenho a carta da CNBB que consegui na Internet. Podem ler...
“ Excelentíssimo Sr. Dr. José Serra
Ministro da Saúde
Senhor Ministro,
Em nome do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, reunido em Brasília/DF, de 22 a 25 deste mês, venho manifestar nosso apreço pelas iniciativas em tornar os medicamentos mais acessíveis à população brasileira. Merece destaque o congelamento do preço dos remédios até o fim do ano corrente. Não podemos, porém, deixar de expressar nossa rejeição à assinatura, em 9 de novembro de 1998, da Norma Técnica "Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes", a qual instrui os Hospitais do SUS a praticarem aborto em crianças de até cinco meses de vida, que tenham sido geradas em um estupro. Como pastores da Igreja, entendemos que é nossa missão trabalhar sempre em favor da vida, e que a criança concebida tenha sua vida tão respeitada quanto a vida da mulher violentada. Em defesa da "cultura da vida" e da consciência ética, tão defendida pela Igreja, que qualificou o aborto de "crime abominável", solicitamos a revogação imediata de tal Norma Técnica, ao mesmo tempo que pedimos assistência prioritária às vítimas de violência sexual. Dispomo-nos a fazer o que estiver ao nosso alcance para assistir as mulheres estupradas, sem, porém, jamais atentarmos contra a vida do nascituro.
Pelo Conselho Permanente da CNBB
Dom Raymundo Damasceno Assis
Secretário Geral da CNBB
Brasília, 25 de agosto de 2000.”

- Mas quando Serra se candidatou a Presidente em nenhum momento fizeram uma campanha para não votarem nele por essa razão. Estranho não é? Questionei

- Olha, eu trabalho na Saúde se vocês quiserem eu até vou buscar o Manual que descreve as técnicas a serem utilizadas, cuja apresentação foi assinada pelo então ministro Serra! – Propôs Daniel

-Vai buscar! Pedimos todos

Quando voltou nos mostrou o manual que dizia:

“Até 12 semanas, o médico poderá optar pelo esvaziamento da cavidade uterina, de acordo com dois métodos. O primeiro, a dilatação do colo uterino e a curetagem. O segundo, a aspiração manual, além de um jogo de dilatadores anatômicos, seringas com vácuos. "A técnica consiste em dilatar o colo uterino até que fique compatível com a idade gestacional. Introduz-se a cânula correspondente e se procede à aspiração da cavidade uterina, tomando-se o cuidado de verificar o momento correto do término do procedimento, ocasião esta em que se sente a aspereza das paredes uterinas, a formação de sangue espumoso e o enluvamento da cânula pelo útero, e em que as pacientes sob anestesia para cervical referem cólicas".
I - APRESENTAÇÃO
As mulheres vêm conquistando nas últimas décadas direitos sociais que a história e a cultura reservaram aos homens durante séculos. no entanto, ainda permanecem relações significativamente desiguais entre ambos os sexos, sendo o mais grave deles a violência sexual contra a mulher.
É dever do Estado e da Sociedade civil delinearem estratégias para terminar com esta violência. E, ao setor saúde compete acolher as vítimas, e não virar as costas para elas, buscando minimizar sua dor e evitar outros agravos.
O braço executivo das ações de saúde no Brasil é formado pelos estados e municípios e, é a eles que o Ministério da Saúde oferece subsídios para medidas que assegurem a estas mulheres a harmonia necessária para prosseguirem, com dignidade, suas vidas.
José Serra
Ministro da Saúde”

- Na apresentação da norma "PREVENÇÃO E TRATAMENTO DOS AGRAVOS RESULTANTES DA VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA MULHERES E ADOLESCENTES", Serra trata o aborto como um direito da mulher. Acho até louvável como política pública... Todos Estados modernos e democráticos defendem essa política louvável! Ponderei.

- Tu defendes o Serra? – Um deles me perguntou.

- Não se trata de defender o candidato Serra ou não. Estou defendendo é o Direito das Mulheres! Respondi.

- Vocês ainda não viram qual é o real problema!  – Disse José

E explicou:
- O que me causa espécie é que Serra, agora, engrosse o coro dos que pretendem condenar Dilma Rousseff por uma opinião sobre uma política implementada por ele próprio!

- Dá para entender esse mundo?!  Disse um senhor que estava perto do local da nossa discussão.

Mas mudando um pouco de assunto... Propus

- Interessante! Vocês já viram que eles não denunciam a fome, a falta de segurança no país, a pedofilia no meio católico e entre os pastores, como aniquidades!

 - É verdade, Portelinha, eles nunca se mobilizaram contra a pedofilia! Ainda pareço ver aquelas imagens terríveis de vídeo amador mostrando um jovem a filmar às escondidas um padre de 82 anos em pleno ato sexual. E depois das denúncias, os repórteres tentaram uma reação do padre que foi filmado e o sacerdote disse apenas que era um assunto de confessionário!

- Isto é aqui no Brasil! - Disse Daniel - Há o caso de um Padre espanhol que tinha mais de 400 horas de gravações de pornografia infantil... Na Alemanha... Na Irlanda onde o seu cardeal primaz, está no centro da polêmica por ter ocultado abusos sexuais cometidos contra menores pelo clero! Em Portugal, o caso mais conhecido de pedofilia a envolver a Igreja remonta a 1993 quando Padre Frederico é condenado pela prática de pedofilia com jovens do sexo masculino. O religioso acaba por fugir para o Brasil onde dá entrevistas no Rio de Janeiro! E Por que eles não se mobilizam para combater tais iniqüidades e dizem que os outros é que são iníquos?

- É verdade, fazem uma política de demonização do PT, e não levam em consideração que tal processo nega o legado histórico do partido dos trabalhadores na construção de um projeto político nascido nas bases populares e identificado com a inclusão e justiça social. Os que afirmam o nascimento de “um império iniqüidade”, com a possível vitória do PT nas atuais eleições, “esquecem” o fundamental papel deste partido em projetos que trouxeram mais justiça para a nação brasileira. O que é iniqüidade? Não é a pedofilia? A inquisição? O silêncio quando Hitler massacrou milhares de Judeus e Ciganos? Ou é o combate a miséria e a justiça social preconizada pela candidata Dilma? Questionei

João Portelinha, Professor da UFT, Presidente da APL e analista político.  joaoportelinhadasilva@hotmail.com 

IGREJA E DILMA, QUEM TEM RAZÂO?

  

É bom conversar... Principalmente com gente inteligente! Como estamos em época de eleições geralmente as nossas conversas são sobre os nossos candidatos ao pleito, principalmente sobre o perfil dos presidenciáveis.
Tornou-se público nestes dias a estratégia político – religiosa de uma parcela da Igreja no sentido de “demonização do Partido dos trabalhadores do Brasil” e da sua candidata Dilma. Com efeito, ontem tive oportunidade de conversar sobre o assunto com três amigos, um dos quais é Doutor em Teologia pelo Vaticano. Com exceção do meu, o nome dos meus amigos aqui serão fictícios por não ter tido a oportunidade de lhes comunicar minha intenção de publicar a nossa maravilhosa conversa de ontem.

- Não crês Portelinha, na qualidade de cientista político, que as Igrejas devem participar na vida política do país, embora a laicidade seja uma conquista inegociável do nosso Estado brasileiro? Perguntou-me um dos meus amigos, José.

- Não vejo nenhum problema! Em regimes democráticos como o estado brasileiro, existem mecanismos de participação política e popular cuja finalidade é a construção de uma estrutura governamental cada vez participativa. Entendo, inclusive, que os ministros de confissão religiosa seja ela qual for, têm o direito de pleitearem cargos públicos enquanto cidadãos. Sem dúvida, a meu ver, todos os ramos das atividades salutares humanas que concorrem para o aprimoramento de todas as instituições e produzem um elevado padrão de vida física, material, moral, intelectual e espiritual de um povo (ou povos) devem ser buscados e cultivados pelos religiosos, inclusive a política! Outra coisa é fomentar boatos com fins escusos! Respondi.


- Olha, eu vejo com muita preocupação a posição de muitos lideres evangélicos e católicos manipularem seus membros no sentido de não votarem na Dilma com base em simples boatos e com discursos de fazer política partidária. É também função da Igreja essa responsabilidade?

- De fato essas Igrejas em vez de converterem os políticos ao Evangelho, eles é que se convertem em políticos profissionais! (rsrsrsrsrs). E o pior disso tudo, continuei, é que alguns deles apresentam-se como detentores de um mandato divino por serem pastores ou padres e passam a imagem de que também, agora, detém um mandato adjacente para atuarem na área de legislação e administração públicas.

- Vocês sabem que muitos pastores, inclusive a própria Igreja católica, pedem para que seus fieis na votem na candidata do PT? Dom Luiz Gonzaga Bergonzi, por exemplo, disse em entrevista ao GI que orientara os padres da cidade a pregar nas missas o voto contra a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Interroga Daniel.

- E são discursos difamatórios que quase sempre se caracterizam por exemplos isolados recortados da realidade! Uma das armas prediletas da difamação é sempre a manipulação, que se dá quase sempre pelo uso de falas e declarações retiradas do contexto maior de onde foram emitidas! Até já dizem que o Vice da Dilma é satanista! Comentou José.

- Interessante! Vocês já viram que eles não denunciam a fome, a falta de segurança no país, a pedofilia no meio católico e entre os pastores, como aniquidades! Questionei.

 - É verdade, Portelinha, eles nunca se mobilizaram contra a pedofilia! Ainda pareço ver aquelas imagens terríveis de vídeo amador mostrando um jovem a filmar às escondidas um padre de 82 anos em pleno ato sexual. E depois das denúncias, os repórteres tentaram uma reação do padre que foi filmado e o sacerdote disse apenas que era um assunto de confessionário!

- Isto é aqui no Brasil! - Disse Daniel - Há o caso de um Padre espanhol que tinha mais de 400 horas de gravações de pornografia infantil... Na Alemanha... Na Irlanda onde o seu cardeal primaz, está no centro da polêmica por ter ocultado abusos sexuais cometidos contra menores pelo clero! Em Portugal, o caso mais conhecido de pedofilia a envolver a Igreja remonta a 1993 quando Padre Frederico é condenado pela prática de pedofilia com jovens do sexo masculino. O religioso acaba por fugir para o Brasil onde dá entrevistas no Rio de Janeiro! E Por que eles não se mobilizam para combater tais iniqüidades e dizem que os outros é que são iníquos?

- É verdade, fazem uma política de demonização do PT, e não levam em consideração que tal processo nega o legado histórico do partido dos trabalhadores na construção de um projeto político nascido nas bases populares e identificado com a inclusão e justiça social. Os que afirmam o nascimento de “um império iniqüidade”, com a possível vitória do PT nas atuais eleições, “esquecem” o fundamental papel deste partido em projetos que trouxeram mais justiça para a nação brasileira. O que é iniqüidade? Não é a pedofilia? A inquisição? O silêncio quando Hitler massacrou milhares de Judeus e Ciganos? Ou é o combate a miséria e a justiça social preconizada pela candidata Dilma? Questionei
João Portelinha, Professor da UFT, Presidente da APL e analista político.  joaoportelinhadasilva@hotmail.com